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As ações com histórico de dividendos acima de 6% para viver de renda

Levantamento exclusivo mostra quais companhias entregaram bom retornos nos últimos anos. Mas nem todas são recomendadas

As ações com histórico de dividendos acima de 6% para viver de renda
Foto: Envato Elements

Imagine que você ganhou R$ 1 milhão e quer viver de renda com este montante resgatando apenas os dividendos pagos por ações. Você precisa, então, escolher qual empresa vai virar sócio. As opções são uma companhia que paga mais de 6% de dividend yield (retorno em dividendos) ao ano que possui lucros e resultados constantes ou uma que nos últimos dois anos remunerou os acionistas com proventos acima de 20%, mas que antes disso, 5 anos atrás, não pagou nenhum dividendo porque estava realizando investimentos. Qual delas vai realizar o seu desejo?

Se o investidor depende da renda dos dividendos para viver, provavelmente escolheria a primeira ação, já que na segunda há o risco de interrupção de proventos em algum momento. Este é o conceito de previsibilidade, também chamado de consistência. “É a capacidade de a empresa pagar ano após ano dividendos elevados, polpudos e crescentes”, comenta Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research.

A situação exemplificada acima existe de verdade. A Taesa (TAEE11) se encaixa perfeitamente no primeiro exemplo, de pagamentos regulares, enquanto o segundo exemplo poderia ser representado pela Petrobras (PETR3; PETR4), que passou de 2015 a 2018 sem pagar dividendos e nos últimos dois anos se beneficiou da redução do endividamento e da alta do preço do barril de petróleo – um momento cíclico que pode não ocorrer no futuro – para encher os bolsos do acionista.

Mas quais seriam as empresas da Bolsa que pelo seu histórico teriam capacidade de pagar mais de 6% de dividend yield em 2024? Um levantamento exclusivo de Daniel Nigri, da Dica de Hoje Research, para o E-Investidor apresenta as companhias que nos últimos três anos entregaram mais de 6% em dividendos aos seus investidores todo ano e têm potencial de continuar remunerando seus acionistas neste patamar em 2024.

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Foram consideradas companhias com volume mínimo de negociação de R$ 1 milhão ao longo dos últimos 21 dias. O estudo revelou 15 empresas e 17 ações – Cemig (CMIG3; CMIG4) e Petrobras entraram com dois códigos, por conta dos papéis ordinários (ON) e preferenciais (PN).

 

Empresa Dividend Yield 2021 Dividend yield 2022 Dividend yield 2023 Dividend yield últimos 12 meses Dividend yield médio 3 anos
Banco ABC (ABCB4) 6,4% 8,19% 6,26% 8,12% 7,24%
Taesa (TAEE11) 13,51% 13,35% 8,41% 10,01% 11,32%
Wiz (WIZC3) 7,57% 7,39% 6,35% 6,46% 6,94%
Brasilagro (AGRO3) 10,48% 18,25% 10,72% 11,55% 12,75%
Banrisul (BRSR6) 7,12% 9,13% 9,46% 9,53% 8,81%
Bradespar (BRAP4) 18,91% 13,09% 10,17% 9,73% 12,97%
CSN (CSNA3) 6,03% 10,33% 17,5% 15,58% 12,36%
Cemig (CMIG4) 10,69% 13,5% 11,59% 11,57% 11,84%
Gerdau (GGBR3) 15,14% 16,15% 6,86% 6,62% 11,19%
Lavvi (LAVV3) 7,4% 11,63% 13,84% 13,93% 11,7%
Irani (RANI3) 6,57% 9,27% 10,6% 10,46% 9,22%
Cemig (CMIG3) 9,47% 9,55% 7,99% 7,99% 8,75%
CPFL Energia (CPFE3) 11,37% 12,08% 8,69% 8,98% 10,28%
Metalúrgica Gerdau (GOAU4) 20,6% 10,98% 12,26% 11,64% 13,87%
Petrobras (PETR3) 19,59% 54,52% 25,85% 26,75% 31,68%
Petrobras (PETR4) 19,94% 58,84% 29,58% 30,36% 34,68%
Vale (VALE3) 16,74% 9,73% 6,84% 6,57% 9,97%

Fonte: levantamento Daniel Nigri, Dica de Hoje Research. Dados até 09/01/24. Dividend yield = retorno em dividendos

 

O dividend yield mínimo de 6% costuma ser muito procurado por investidores que buscam renda passiva. E é utilizado até mesmo por grandes personagens da Bolsa como Luiz Barsi Filho, maior investidor pessoa física da B3. O número foi disseminado por Décio Bazin, autor do livro “Faça fortuna com ações antes que seja tarde” ainda na década de 1990. O rendimento se justificava na remuneração que os títulos de renda fixa ofereciam na época.

3 oportunidades para não perder de vista

A exímia pagadora de dividendos

Entre as 15 empresas da lista, Nigri cita oportunidades para o investidor que busca receber dividendos de forma constante e perene. A primeira delas é a transmissora Taesa (TAEE11), que segundo Nigri já provou ser uma exímia pagadora de proventos há pelo menos 12 anos. “A empresa possui uma agenda de pagamentos muito consolidada e divulga proventos nos meses de maio, agosto, novembro e dezembro”, destaca.

Embora em 2023 os dividendos da companhia tenham recuado por conta de um cenário desafiador provocado pela deflação do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a Taesa conseguiu entregar um retorno em dividendos de 8,41% para os acionistas que adquiriram o  papel no começo do ano passado.

“A tendência é que o IGP-M volte a subir, porque não existe deflação para sempre, e as RAPs (Receita Anual Permitida) de mais de 60% do seu portfólio aumentem a partir do segundo semestre de 2024”, afirma Nigri. Em relação aos 40% restantes do quadro da companhia, o analista acredita que também haverá incremento nas receitas por estas serem indexadas ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo (IPCA), que deve ficar em torno de 4%.

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Nigri destaca que ainda existem alguns projetos da Taesa para entrar em operação no decorrer de 2024, o que também deve beneficiar os resultados da elétrica. Mesmo com os investimentos que a companhia terá que fazer nos projetos, Nigri projeta que ela distribua pelo menos R$ 3 por ação em 2024, equivalente a um dividend yield de 8%.

Entre os pontos de atenção, Nigri cita que a companhia estaria esticada, negociando a um múltiplo Preço/Lucro (P/L) de 11,39 vezes, acima da sua média histórica de 9 vezes.

ABCB4: uma empresa de crescidendos

Outra companhia considerada oportunidade é o Banco ABC (ABCB4), que empresta dinheiro apenas para empresas. Segundo Nigri, o banco inicialmente tinha um foco de atender companhias corporate e high corporate, com faturamento superior a R$ 100 milhões. Contudo, nos últimos anos o ABC começou a investir no segmento middle – empresas com faturamento anual entre R$ 30 e R$ 300 milhões.  “Isso fez os resultados crescerem e os dividendos aumentaram”, pontua.

Nos últimos trimestres, a alta da inadimplência reduziu o apetite do banco para potencializar o crescimento da carteira de crédito, mas na visão de Nigri, com um custo de captação de recursos menor por conta da queda da taxa básica de juros da economia (Selic), o banco deve recuperar o seu apetite de crescimento e alcançar lucros cada vez maiores.

“Acreditamos que o banco terá uma menor provisão para devedores duvidosos em 2024. Desta forma, vai focar novamente em crescer a sua carteira middle, que possui um spread mais elevado, assim que o índice de inadimplência começar a cair”, avalia o analista da Dica de Hoje Research.

Ele também aponta que o banco ABC possui uma política de dividendos muito clara, distribuindo proventos geralmente em fevereiro e agosto – os anúncios são feitos na maioria das vezes nos últimos dias úteis de dezembro e junho. “Há mais de uma década funciona dessa forma”, diz.

Os dividendos também são crescentes ao longo do tempo. Em junho de 2012, a companhia distribuiu R$ 44,5 milhões em proventos, enquanto em junho de 2023 o montante pago foi de R$ 184,8 milhões. Nigri projeta que o banco pague dividendos de R$ 1,60 por ação neste ano, equivalente a um dividend yield de 7%. Ele destaca que mesmo com o forte crescimento, o banco ainda negocia na média histórica de P/L de 6,4 vezes.

GOAU4: uma holding para dividendos

A terceira empresa na lista de oportunidades é a Metalúrgica Gerdau (GOAU4), holding que possui 33,5% da Gerdau (GGBR4). Para Nigri, a ação da empresa está muito barata, negociando a 3,8 vezes o seu lucro. O mercado está precificando um cenário complexo no curto prazo para Gerdau devido ao menor crescimento global e à grande oferta de aço chinês no mundo.

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“Se comparamos a holding com concorrentes, como CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5), a Metalúrgica Gerdau é mais resiliente em manter as margens e permanecer no lucro, mesmo em situações adversas”, observa Nigri.

O analista projeta um dividend yield de 8% para 2024, abaixo do registrado em 2023, de 12,26%. “A queda nos proventos ocorre pela redução do payout (parcela do lucro destinada a proventos) para 35% do lucro líquido. A baixa no lucro também impacta”, pontua.

As ações que não devem ser fiéis ao histórico

 Na lista de empresas, há também companhias que têm um cenário complexo pela frente e que não são recomendadas por Nigri para quem busca dividendos no longo prazo. Uma delas é a Petrobras, que deve entregar um dividend yield de entre 12% e 14% neste ano, abaixo do registrado em 2023, de 29,58%. A companhia vem de uma trajetória decrescente de proventos.

Segundo Nigri, o preço do barril do petróleo não deve seguir tão elevado este ano quanto em 2023. Além disso, ele observa que as ações já valorizaram mais de 80% no ano passado, deixando pouco espaço para o ganho de capital. “No preço atual, a companhia não compensa os riscos envolvidos”, afirma.

Outra empresa que oferece riscos à estratégia de dividendos é a CSN (CSNA3), diz Nigri. A companhia está em prejuízo nos últimos 12 meses e caso não recupere a lucratividade pode até não remunerar os acionistas neste ano.

Ainda entre as que devem ver os dividendos recuando está a corretora de seguros Wiz (WIZC3). Embora tenha superado o patamar de 6% nos últimos três anos e tenha uma média de dividend yield de 6,94%, a companhia aprovou em 2023 uma redução do seu payout de 50% para 25% do lucro. No passado a Wiz já chegou a distribuir 100% do lucro em proventos.

Com esse corte pela metade, os dividendos da Wiz também devem cair. Nigri espera algo em torno de 3,17% para 2024. “Dificilmente o lucro da Wiz irá dobrar para compensar a queda do payout. É uma empresa que o investidor deve olhar com cuidado porque pode reduzir os proventos”, diz.

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