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Os desafios que ameaçam Apple, Meta e outras big techs americanas

Novo cenário de risco para as gigantes de tecnologia faz analistas repensarem recomendações para os papeis das empresas

Os desafios que ameaçam Apple, Meta e outras big techs americanas
Em 2024, as Magnificent Seven estariam se transformando nas Fabulous Four. Foto: gguy - stock.adobe.com
  • Novo quadro faz os analistas rebalancearem suas recomendações de carteiras internacionais
  • Risco de tributação nas big techs é cada vez maior. A Europa saiu na frente, mas os EUA estão chegando
  • Energia, serviços públicos, materiais básicos e financeiros se destacaram como os melhores em março no S&P 500

Desde o início de março, o XLK, fundo ETF que investe em ações das empresas de tecnologia do S&P 500, parou de subir e engatou um movimento lateral. A dinâmica das últimas semanas aponta um horizonte mais complicado para as chamadas big techs americanas, as grandes companhias de tecnologia. Essas empresas enfrentam desafios na área de regulação e tributação nos Estados Unidos e na Europa, além de um cenário econômico mais desafiador.

O novo quadro faz os analistas rebalancearem suas recomendações de carteiras internacionais. Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research, considera uma composição de 1% a 3% de Apple (AAPL34), o mesmo para Microsoft (MSFT34), e até 6% de Meta (M1TA34), dentro de suas sugestões na Carteira MoneyBets, série da casa voltada para mercados externos. Ele considera ideal um peso de 20% de ativos internacionais.

“Diferentemente do ano passado, em que vimos a ótima performance das Magnificent Seven – nome dado às sete maiores empresas de tecnologia americanas – sendo o principal propulsor dos mercados internacionais. Mas nesse ano, começamos a ver uma distinção dentro desse grupo”, diz o analista. “Alguns já deram um novo nome (Fabulous Four)”, completa, sobre o termo que se refere a Amazon (AMZO34), Meta, Microsoft e Nvidia (NVDC34), uma vez que Alphabet (GOGL34), Apple e Tesla (TSLA34) tiveram um primeiro trimestre bem abaixo das demais.

Paulo Gitz, estrategista global e CFA da XP International, tem uma opinião mais restrita. “Das Big Techs (gigantes de tecnologia), a Microsoft é a única que a gente recomenda”, afirma. Apesar dos múltiplos altos – de 30x o preço da ação sobre o lucro (P/L) –, observa, a companhia demonstra trajetória de crescimento de lucro mais segura e apresenta maior visibilidade em múltiplas verticais de negócio: SaaS (software como serviço), data centers, computação em nuvem, hardwares e inteligência artificial (IA).

Regulação e tributação no radar das Big Techs

Apesar de as empresas do setor continuarem a apresentar lucros expressivos e crescentes, Gitz argumenta que o segmento de tecnologia passou a enfrentar uma nuvem negra que envolve regulação, tributação e política monetária. “O risco de tributação nas big techs é cada vez maior. A Europa saiu na frente, mas os EUA estão chegando”, diz.

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Ele lembra que até mesmo os republicanos, na figura do ex-presidente e candidato Donald Trump, já externaram interesse em regular e tributar mais as empresas do setor. “Os EUA estão com déficit histórico e essa conta deve fechar do lado da arrecadação. As empresas de tecnologia pagam pouco imposto nos EUA.”

Na semana passada, a União Europeia avançou em direção a uma regulamentação mais abrangente do mercado digital, alvo principal do Digital Markets Act (DMA). Esta legislação estabelece uma série de medidas para promover a concorrência justa e preservar a escolha do consumidor.

O DMA prevê multas pesadas, podendo chegar a até 10% da receita global das empresas. A Apple é investigada por possíveis violações das normas, que exigem que as empresas informem aos consumidores sobre alternativas disponíveis em lojas de aplicativos. A Alphabet está sendo questionada por suspeitas de uma espécie de monopólio de seus produtos em aparelhos celulares com sistema operacional Android.

A Meta, por sua vez, foi instada a dar detalhes sobre sua política de “pay or consent” – modelo em que a empresa dá a opção para o cliente utilizar os serviços gratuitamente desde que ceda seus dados para usos diversos –, discussão que também vem sendo travada no Brasil em relação à propriedade e venda de informações pessoais.

Rotação de carteiras e os juros

Enzo Pacheco avalia que os investidores ficarão atentos às possíveis novas notícias, mas que ainda é cedo para determinar se as grandes empresas de tecnologia serão punidas pelos legisladores – e pelo mercado –, com essas investigações. Na semana passada, algumas delas fecharam em forte baixa, como a Meta (-4,6%), movimento que foi compensado nesta semana com alta relevante e nova máxima histórica a US$ 530,00. “Parte da queda (da semana passada) está ligada ao fato de que os investidores aparentemente estavam rotacionando os seus portfólios”, disse.

A rotação de carteira, por outro lado, tem influência dos juros americanos. Gitz da XP aponta que a inflação persistente dos EUA impulsiona o aumento das taxas de juros longas de dez anos, que subiram 60 pontos base este ano. Saíram de 3,8% no final de 2023 para o patamar de 4,4% neste início de abril. "Como resultado, houve uma migração de investidores de empresas de crescimento para empresas de valor e cíclicas", diz.

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Em março houve uma dispersão maior de setores puxando o S&P 500, antes muito focado nas empresas de tecnologia. Energia, serviços públicos, materiais básicos e financeiros se destacaram como os melhores do mês. Juros altos não combinam com empresas de crescimento, característica das empresas de tecnologia.

O risco para as Big Techs agora fica por conta do Fed adiar cada vez mais o início do ciclo de corte de juros. A alta no preço de commodities, como o petróleo, pressiona ainda mais a inflação e dificulta o trabalho da política monetária americana.

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