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Petrobras: embates políticos pesam sobre ações em 2021

Segundo Economatica, papéis tiveram pior desempenho entre grandes petroleiras da América Latina e EUA em 2021

Petrobras: embates políticos pesam sobre ações em 2021
General Joaquim Silva e Luna e o presidente Jair Bolsonaro (FOTO: Mauro Pimentel/AFP)
  • Com quase 70 anos de história, a Petrobras (PETR4 e PETR3) é uma companhia de proporções monumentais, cuja atividade é de suma importância para o País
  • Sem concorrentes relevantes, a Petrobras é responsável pela exploração de petróleo e produção de combustíveis no Brasil - o que fez a estatal, por vezes, ser utilizada como instrumento político para baixar os preços de itens que pesam no bolso da população
  • Apesar dos riscos políticos pesarem nas ações em 2021, a estatal possui mecanismos de proteção contra interferências, como o Estatuto. Alternativas para evitar ameaças à política de preços também já estão sendo estudadas

“Tudo caro: gasolina, diesel, gás de cozinha. O que a Petrobras tem a ver com isso? Amanhã, a partir das 9h, o plenário vira Comissão Geral para questionar o peso dos preços da empresa no bolso de todos nós. A Petrobras deve ser lembrada: os brasileiros são seus acionistas”, afirmou Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, no Twitter.

As falas do deputado federal divulgadas na segunda-feira (13), sobre a audiência entre Lira e o atual CEO da empresa, general Joaquim Silva e Luna, realizada nesta terça-feira (14), em comissão geral na Câmara dos Deputados, exemplificam bem os riscos políticos que pairam sobre a maior petroleira do Brasil. Com quase 70 anos de história, a Petrobras (PETR4 e PETR3) é uma companhia de proporções monumentais, cuja atividade é de suma importância para o País.

Sem concorrentes relevantes, a Petrobras é responsável pela exploração de petróleo e produção de combustíveis no Brasil – o que fez a estatal, por vezes, ser utilizada como instrumento político para baixar os preços de itens que pesam no bolso da população, como gasolina, diesel e gás, citados por Lira.

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Durante o governo Dilma, por exemplo, a utilização da petroleira para controlar a inflação resultou em um rombo bilionário nas finanças da empresa. A sombra desse episódio ainda preocupa o mercado que, em qualquer sinal de ‘fogo’, penaliza os papéis. Na esteira dos temores em torno da audiência, a PETR4 fechou o pregão desta terça-feira (14) em queda de 1,33%, aos R$ 25,88.

Atualmente a política de preços é baseada na paridade internacional, ou seja, flutuação de cotação do petróleo no mercado internacional e do dólar.

“A política de preços é um tema super importante para Petrobras. Vimos no passado que quando a estatal teve que praticar algum tipo de congelamento de preços, acabou tendo prejuízos. Então ela tinha um custo para produzir um combustível e teve que subsidiar o preço na refinaria. E além do impacto financeiro, teve um impacto ruim de interferência, com o controlador (governo) adotando medidas que afetaram o fluxo de caixa. Não é o que vemos acontecendo agora”, afirma Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.

Retorno em 2021

Segundo o levantamento feito pela Economatica Brasil com as petroleiras do segmento de ‘extração de petróleo’ (classificação norte-americana) listadas em bolsas da América Latina e Estados Unidos, ou com ADRs em Nova York, e que tenham pelo menos US$ 1 bilhão em valor de mercado, as ações da Petrobras tiveram os piores retornos em 2021.

Entre 31 de dezembro de 2020 e 13 de setembro de 2021, a PETR3 e a PETR4 registraram valorizações de 1,49% e 0,93% (em dólares). Para efeito de comparação, o terceiro pior papel da lista, pertencente a americana Kosmos Energy, teve valorização de 6,81% no mesmo período.

Retorno de petroleiras em 2021
Nome Código Pais Retorno no ano (%) em dólares Bolsa em que está listada
1 Petrobras PETR4 Brasil 0,93 Bovespa
2 Petrobras PETR3 Brasil 1,49 Bovespa
3 Kosmos Energy Ltd. KOS Bermudas 6,81 NYSE
4 Ypf S.A. YPFD Argentina 9,99 BYMA
5 Royal Dutch Shell Plc RDS.A Holanda 14,74 NYSE
6 CNX Resources Corp CNX USA 15,28 NYSE
7 Cabot Oil & Gas Corp COG USA 18,76 NYSE
8 Royal Dutch Shell Plc RDS.B Holanda 19,19 NYSE
9 Eni Spa E Italia 27,27 NYSE
10 Pioneer Natural Resources Co PXD USA 38,34 NYSE
11 Petrorio PRIO3 Brasil 38,46 Bovespa
12 Apache Corp APA USA 42,62 NYSE
13 Canadian Natural Resources Ltd CNQ Canadá 44,24 NYSE
14 EOG Resources Inc EOG USA 44,78 NYSE
15 Cenovus Energy Inc. CVE Canadá 46,03 NYSE
16 Occidental Petroleum Corp OXY USA 54,12 NYSE
17 EQT Corp EQT USA 57,12 NYSE
18 Petrochina Co Ltd PTR China 62,65 NYSE
19 Diamondback Energy, Inc FANG USA 63,41 NASDAQ
20 Crescent Point Energy Corp. CPG Canadá 65,81 NYSE
Fonte: Economatica/ Empresas do segmento de ‘extração de petróleo’, com pelo menos US$ 1 bilhão em valor de mercado em 13/10/2021

 

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O desempenho das ações da estatal contrasta com os números apresentados em 2021. No segundo trimestre do ano, por exemplo, o lucro líquido chegou aos R$ 42,8 bilhões, revertendo um prejuízo de R$ 2,7 bilhões no mesmo período do ano passado. O EBITDA (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) também alcançou os R$ 61,9 bilhões, 148% superior ao segundo trimestre de 2020.

“Com certeza tem um ‘Q’ de influência política nesse desempenho, sem dúvida. Entretanto, esse resultado também é influenciado pelo desenrolar do plano de desinvestimento da Petrobras, assim como a dinâmica do barril do petróleo. Tem esses três quesitos pesando sobre a performance no curto prazo”, afirma Hugo Queiroz, diretor do TC Matrix. “Obviamente, a maior parcela dessa pressão vem do ambiente político, mas a empresa tem mecanismos que a resguardam de interferências.”

Essa também é a visão de Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos. “Não há dúvidas que a questão política pesa, sim, mas não dá pra colocar tudo em cima disso”, explica. “Quando vemos por múltiplos, a Petrobras está mais perto dos pares russos, que os americanos. E tem também a questão da agenda verde, com a transição energética.”

Faíscas políticas

Diversos fatores políticos ajudam a explicar esse panorama. No início do ano, a troca de Antonio Castello Branco, antigo CEO da Petrobras, para Silva e Luna, gerou grandes dúvidas sobre a continuidade de atual política de preços dos combustíveis baseada na paridade internacional (de acordo com a variação da cotação do petróleo no mercado internacional). O temor era de que a mudança sinalizasse uma ingerência do presidente Jair Bolsonaro na estatal, em uma tentativa de baixar artificialmente a gasolina e o diesel.

Na época, Bolsonaro criticava as altas expressivas nos combustíveis. Em 22 de fevereiro, um pregão após o anúncio da troca de comando, as ações foram nocauteadas e registraram uma queda de 20%. Os temores, entretanto, não se concretizaram e hoje a gestão do general Silva e Luna se mostra comprometida em manter a política de preços atual.

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“Quando há flutuação dos preços, não quer dizer que a Petrobras teve alguma atuação sobre o preço”, ressaltou Silva e Luna, em discurso durante a audiência desta terça. “Como empresa de economia mista ela (Petrobras) tem compromisso com transparência, governança, integridade, de retorno social…que significa tributos.”

Ainda assim, as faíscas continuam e seguem provocando alguma dor de cabeça aos acionistas. Recentemente, por exemplo, alguns estados entraram com ação na justiça contra a Petrobras, por supostamente mentir sobre a composição dos preços dos combustíveis. Em artigo, Silva e Luna afirma que o valor recebido pela empresa a cada litro de gasolina seria de apenas R$ 2 e a diferença paga pelo consumidor na bomba viria da incidência do ICMS (imposto estadual sobre a circulação de mercadorias e serviços) e demais tributos.

Essa situação reflete também o embate entre o presidente Jair Bolsonaro e os governos estaduais. “Na composição do preço do combustível o que mais impacta mais é o ICMS, que é responsável pelo grosso do custo adicionado na refinaria. Obviamente a variação cambial impacta no custo caixa da Petrobras, mas hoje ele gera muito menos pressão do que a dinâmica do ICMS, que é o grande vilão e responsável por mais de 20% na média do preço do combustível”, afirma Queiroz. “E nesse momento poderia, com certeza, ser reduzido.”

Para Arbetman, Silva e Luna foi preciso no artigo. “Ele está certo em abrir mais o jogo, os custos envolvidos, isso torna o debate mais rico. É o primeiro passo que as cabeças do setor possam pensar em uma fórmula”, afirma. “O texto foi muito bem escrito, mas fujo de valores, como a questão dos R$ 2, porque é muito difícil ser preciso. É impossível saber exatamente o preço em que está sendo feito”, diz.

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O especialista da Ativa ressalta ainda a dificuldade de fazer mudanças perenes nos preços, em que as principais variáveis (preço do petróleo e dólar) não são manipuláveis pela estatal.

Fundamentos

Os especialistas consultados pelo E-Investidor são unânimes em ressaltar o momento ímpar que a Petrobras está vivendo, com forte geração de caixa nos últimos trimestres, controle da dívida e expectativa de pagamento de dividendos maiores em 2022.

“Vemos a Petrobras como um papel descontado, com valuation atrativo, e grande parte desse desconto está associado ao risco Brasil e o aumento de incertezas, com a proximidade das eleições de 2022. Isso acaba deixando as estatais com uma má volatidade”, afirma França. “Provavelmente a empresa vai atingir a meta de desalavancagem esse ano, isso vai permitir que a empresa implemente nova política de distribuição de dividendos.”

“A Petrobras está com uma dinâmica positiva no mercado, com o barril de petróleo acima de US$ 70 dólares e um câmbio bem favorável em termos de combustíveis. Isso tem ajudado que a companhia tenha uma bela receita e, consequentemente, uma boa margem operacional”, explica Queiroz. “Adicionalmente ela tem feito desinvestimentos, vendendo refino, distribuidoras, deve vender as térmicas agora, focando muito mais na parte de extração e produção de petróleo. Tudo isso deve ajudar a diminuir endividamento.”

Contudo, as recomendações não seguem uma direção única. França, da Ágora, recomenda a compra do papel, com preço-alvo de R$ 42. Por outro lado, Arbetman, da Ativa, ainda vê a empresa com cautela. “Hoje preferimos posições que dialogam menos com essa questão política”, afirma o especialista.

Mecanismos de proteção

Na visão de França, uma das soluções para destravar os embates políticos em torno da formação dos preços da Petrobras, e com isso o impacto dos ruídos nas ações, seria a proposta de criação de um mecanismo de compensação.

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“A criação de um fundo de compensação não subsidiado pela estatal seria bom para diminuir a percepção de rico”, afirma. “Esse fundo seria usado em períodos em que o dólar ou o petróleo estivesse muito alto, para que o preço não ficasse muito caro para o consumidor na bomba.”

A própria venda de refinarias já em curso pela estatal também seria importante para reduzir as possibilidades de interferência. “Embora seja uma divisão importante para o resultado, historicamente foi no refino onde houve algum tipo de ingerência. Se a Petrobras seguir reduzindo a exposição nesse segmento, a possibilidade de uma interferência acaba sendo diluído, o poder do Governo acaba sendo limitado”, afirma França.

Já para Arbetman, a criação de um fundo seria bastante complexo. “Para que você faça esse fundo, é necessário recursos. Não acho essa proposta ideal, acredito que seja menos agressiva que criar ou tirar um imposto e ter, como em alguns países, um preço máximo e mínimo, trabalhar em bandas”, conclui.

Na visão de Queiroz, o Estatuto da Petrobras já a protege contra eventuais interferências e ruídos políticos não deveriam preocupar o investidor, apesar de impactarem as ações no curto prazo. “No Estatuto está previsto que a companhia receba indenização se o Governo interferir. Outra trava é o processo avançado da venda de refinarias”, explica.

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