Mercado

Risco de falência do setor aéreo, fake news no mercado financeiro e crise do petróleo: veja as ações com as maiores quedas em 2020

CVC e IRB lideram entre as maiores desvalorizações

(Estadão Conteúdo/Fabio Motta)
  • Empresas do setor aéreo e de turismo são as mais afetadas pelo coronavírus
  • Uma crise de credibilidade atingiu em cheio as ações do IRB
  • Com a guerra dos preços de petróleo, as ações da Petrobrás caíram mais de 60% no ano

(José Ayan Júnior, E-Investidor) O cenário otimista projetado para os investimentos em renda variável em 2020 foi rapidamente substituído pelo pânico gerado pelo coronavírus. Com a escalada da doença, as bolsas de valores mundiais passaram a derreter. As notícias ligadas à pandemia têm um efeito direto no mercado financeiro e as ações reagem a elas. No Brasil, apenas um papel do Ibovespa, o principal índice da B3, consegue resistir neste ano: o da Telefônica Brasil, com alta de 0,64%. O índice acumula desvalorização de 42%.

Ponto fora da curva neste momento de crise, os dados corporativos têm sido a força da Telefônica. Os analistas consideram que a redução do nível de alavancagem, com o pagamento de empréstimos e financiamentos, e o aumento da remuneração dos acionistas por meio de dividendos e juros sobre o capital próprio são fatores importantes para que os investidores prefiram manter a ação na carteira a vendê-las.

Ação do Ibovespa      Desvalorização em 2020*
CVC – 81,26%
IRB – 81,26%
Gol  – 80,22%
Azul – 76,32%
Smiles – 74,21%
Petrobras ON – 61,81%
Braskem  – 60,47%
Cia Hering      – 60,34%
BTG Pactual – 60,32%
Petrobras PN – 60,24%

Fonte: Broadcast *Dados até 20/03 

Em contrapartida, empresas ligadas ao setor aéreo e de turismo estão em baixa. A disparada do dólar, estabelecendo o recorde nominal para acima de R$ 5, e o agravamento da pandemia que cancelou viagens e voos em massa têm feito as ações despencarem.

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As perspectivas nada animadoras estão ligadas a um cenário de total incerteza, com um sentimento do mercado de que o “pior ainda está por vir”. A possibilidade de pedidos de falência também já está no radar dos investidores. As ações da Gol já foram penalizadas no ano com uma queda 80,22%, seguida pela Azul, com baixa de 76,32%. A Smiles também teve seus papéis afetados, com recuo de 74,21%.

“Como as pessoas estão em isolamento e há uma queda brusca de demanda, as empresas estão cortando 90% dos voos internacionais e os voos domésticos estão caindo 50%”, diz Jorge Leal Medeiros, especialista em aviação e professor da Poli-USP. “Gol, Azul e Latam estão em uma situação muito difícil e precisam de suporte do governo.”

Na última semana, o governo anunciou medidas de emergência para reduzir o custo das empresas, como o adiamento do pagamento das tarifas de navegação aérea, a flexibilização do pagamento dos bilhetes emitidos, além de colocar uma linha de crédito em estudo.

Mas nada se compara ao caso da operadora CVC, que acumula desvalorização de 81,26% no ano e é a pior entre as empresas que fazem parte do Ibovespa. Além dos fatores que afetam todas as demais do setor de turismo e entretenimento, há um histórico de pontos negativos que contribuiu para a forte desvalorização da ação.

“A crise da Argentina, as manchas de óleo no Nordeste, a falência da Avianca e um critério contábil errado no balanço formaram uma tempestade perfeita para a CVC”, diz Pedro Galdi, analista de investimentos da Mirae Asset.

Efeito Buffett

Outra empresa que está sendo afetada tanto pelos fatores externos como por internos é o IRB. Com perda de 81,26% no ano (sim, o mesmo que a CVC), a ação da resseguradora chegou a recuar mais de 30% em um único pregão, perdendo mais de R$ 8 bilhões em valor de mercado.

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Em meados de fevereiro, investidores alegaram que a administração da empresa os teria induzido a acreditar que a Berkshire Hathaway, empresa do megainvestidor Warren Buffett, teria triplicado sua participação no IRB, aproveitando a baixa das ações da resseguradora no mercado. Uma semana depois, o bilionário divulgou um comunicado afirmando que não é, nunca foi e nunca será acionista da companhia.

A imagem da empresa no mercado já havia sido arranhada quando a gestora Squadra levantou questionamentos a respeito do balanço, acusando a companhia de inflar valores contábeis. “Desde que o IRB realizou sua abertura de capital em bolsa de valores, em 2017, temos dedicado esforços na análise de seus negócios e resultados. Nesse processo, encontramos indícios que apontam lucros normalizados (recorrentes) significativamente inferiores aos lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras da Companhia”, escreveu a Squadra, em carta.

A crise de credibilidade culminou na demissão de José Carlos Cardoso e Fernando Passos, então presidente e diretor financeiro da resseguradora, respectivamente, além de levar Ivan Monteiro à renúncia do cargo de presidente do Conselho de Administração.

Uma outra guerra

A Petrobrás, umas das companhias de maior relevância no Ibovespa, registra quedas de 60,24% na ação preferencial e de 61,81% na ordinária. Apesar de um início de ano promissor, com boas perspectivas de melhorias operacionais, desalavancagem e recorde de produção, a tensão entre Arábia Saudita e Rússia caiu como uma bomba e resultou em uma forte queda no preço do petróleo. O resultado não poderia ter sido outro: o investidor quis evitar riscos e houve uma fuga do papel na Bolsa.

“Há uma grande correlação entre preços da Petrobrás e o comportamento do petróleo no ano. Sendo assim, podemos atribuir grande parte desse movimento de queda ao preço da commodity”, diz Ricardo França, analista da corretora Ágora Investimentos.

Com a mudança macroeconômica, a agenda da petroleira de venda de ativos e melhora de fundamentos deve ser adiada. A Ágora estima que os resultados de desalavancagem da companhia para 2020 só serão entregues nos próximos dois anos.

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