- Nesta quarta-feira (8), o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decide sobre o novo reajuste da taxa Selic
- O mercado acredita que a autoridade monetária realize uma redução de 25 pontos-base da Selic, contrariando o ritmo de queda das reuniões anteriores
- A nova projeção é uma reflexo da deterioração do ambiente econômico tanto dos Estados Unidos quanto no Brasil, o que exige mais cautela dos agentes econômicos
O mercado não acredita mais na possibilidade do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), reduzir a Selic em 50 pontos-base no fim da reunião desta quarta-feira (8). Na véspera da decisão da autoridade monetária sobre os juros, as apostas apontam para uma redução mais tímida, de 25 pontos-base – para 10,50% ao ano –, devido às incertezas macroeconômicas que impossibilitam cortes da mesma magnitude das últimas decisões. A realidade obriga as gestoras e corretoras de investimentos a reduzirem os riscos dos seus portfólios e a aumentar exposição em ativos de renda fixa.
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Os dados do Boletim de Focus demonstram a piora da perspectiva econômica entre os agentes de mercado. No relatório desta segunda-feira (6), as projeções para a Selic no fim de 2024 subiram de 9,50% para 9,63% ao ano em apenas uma semana. No início de abril, a expectativa era que a taxa básica de juros encerrasse o ano a 9% ao ano. Para a reunião desta quarta-feira (8), os palpites para a decisão do Copom também mudaram nos últimos dias.
O índice Equus de Precificação da Selic (IEPS), produzido semanalmente pela Equus Capital por meio de inteligência artificial com base nos dados de contratos de opções de Copom, mostrou que a probabilidade da Selic sair de 10,75% para 10,25% ao ano caiu de 43% para 30,3% em sete dias. Já para um reajuste de 25 pontos base, as chances atuais são de 69,70%. “Esse cenário indica uma preocupação com a inflação ainda elevada e sinais mistos na atividade econômica”, diz Felipe Uchida, head do Departamento de Análises Quantitativas e sócio da Equus Capital.
Uma das causas para essa preocupação vem da alteração da meta fiscal de 2025 pela equipe econômica, que passou de um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para déficit zero. O ajuste sugeriu ao mercado, na avaliação de Uchida, que o governo pode adotar uma abordagem menos restritiva para os gastos públicos. Na prática, isso aumenta as preocupações com a sustentabilidade fiscal e desencoraja cortes de maior magnitude na taxa de juros pelo BC.
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O cenário no exterior adiciona ainda mais pessimismo para as perspectivas econômicas. Na reunião do dia 1º de maio, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, decidiu manter as taxas de juros no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano. A autoridade monetária norte-americana afirmou ainda ao mercado que o ciclo de afrouxamento monetário só deve iniciar quando os dirigentes estiverem confiantes de que a inflação alcançará a meta de 2%. Por enquanto, não há esse sentimento.
“Temos um ‘combo’: juros nos EUA mais fragilidade fiscal no Brasil estressando os juros e sugerindo redução no ritmo de cortes”, diz Bruno Monsanto, economista e assessor da RJ+Investimentos.
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Já para o pós do anúncio da Selic, Monsanto ressalta que dois pontos devem indicar o direcionamento tanto para os mercados de renda fixa quanto para o mercado de Bolsa: o tom do comunicado que pode indicar ou não a continuidade de cortes e a falta de um consenso na decisão dos integrantes do colegiado do Copom. “Esses dois fatores podem trazer alguma volatilidade adicional ao mercado. Se o tom do comunicado vier menos duro e as sinalizações dos movimentos futuros mais otimistas, a Bolsa tende a ganhar tração”, avalia o economista e assessor da RJ+ Investimentos.
Mudanças nos portfólios de investimento
O cenário mais pessimista para os mercados exigiu das corretoras e gestoras de investimentos mudanças nos portfólios. Uma pesquisa realizada pela XP, divulgada nesta terça-feira (7), mostrou que os gestores de fundos multimercados reduziram as margens de risco das suas carteiras e aumentaram a exposição no exterior. “Houve um aumento nas posições compradas em ações no exterior. No Brasil, houve redução no otimismo com a Bolsa brasileira, que veio acompanhado com uma redução de posicionamento”, escreveram Clara Sodré, analistas de fundo da XP e responsável pela pesquisa.
Por outro lado, mesmo com o aumento do pessimismo para o ambiente doméstico, 71% das gestoras possuem posição comprada nas ações brasileiras. Na pesquisa anterior, realizada em março, esse porcentual era de 85%. ”Apesar da volatilidade, os gestores seguem enxergando boas oportunidades na Bolsa local”, ressalta Sodré. A pesquisa da XP consultou 25 gestoras que possuíam estratégias multimercados macro nos dias 30 de abril a 3 de maio.
O BTG Pactual (BPAC11) Asset também realizou alterações nas suas estratégias de investimentos. A asset do banco está mais otimista com os ativos pós-fixados ao passo que uma taxa estrutural mais elevada no exterior deve implicar em juros mais altos no mercado doméstico. Do lado da renda variável, os gestores do BTG enxergam os fundos de investimentos imobiliários (FIIs) como uma boa classe de ativos para se manter posição com os atuais riscos do ambiente doméstico dada a baixa volatilidade, vista como fundamental para a construção dos portfólios, e pela geração de dividendos.
Já a Empiricus prefere se posicionar em títulos indexados à inflação com vencimento intermediário, algo em torno de três a cinco anos. “Os níveis de juros reais ofertados hoje são, sem dúvida, uma excelente oportunidade para o investidor pessoa física. Gostamos também dos títulos prefixados pelo carrego alto, embora o cenário de fechamento de taxas não esteja mais tão claro”, diz Lais Costa, analista da Empiricus Research.
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No entanto, ela alerta para os riscos em investir no crédito privado. Para Costa, os juros altos por mais tempo podem pesar sobre o operacional das empresas. “É preciso ser bastante diligente na escolha dos nomes”, orienta Costa.
E o dólar?
O C6 Bank também fez alterações no portfólio para o mês de maio. O banco decidiu aumentar a exposição em classes de ativos cambiais diante da possibilidade de novas valorizações do dólar devido às incertezas econômicas nos Estados Unidos e ao crescimento da percepção de risco para o quadro brasileiro. Pela projeção do C6 Bank, o dólar encerrará o ano cotado a R$ 5,30, chegando a R$ 5,50 em 2025 devido ao cenário fiscal doméstico e ao cenário global de dólar forte.
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As carteiras recomendadas também mantiveram maior concentração em ativos atrelados à inflação curta brasileira. Já em renda variável, o movimento foi o contrário. “Em vista do desempenho recente do mercado e das incertezas no cenário econômico, decidimos reduzir sutilmente a exposição a ativos de renda variável internacional e à renda variável brasileira”, diz Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank. A decisão se ancora nas chances de não haver cortes de juros nos Estados Unidos em 2024.