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Comportamento

Amizades têm papel importante no desenvolvimento profissional e financeiro

“Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és”. Estudos comprovam que a máxima é verdadeira e que ter amigos com valores próximos pode contribuir para o sucesso financeiro

Amizades têm papel importante no desenvolvimento profissional e financeiro
(Foto: Envato Elements)
  • Diversos estudos e especialistas indicam que as amizades podem exercer um papel fundamental é no desenvolvimento profissional e financeiro de uma pessoa
  • Pesquisadores do HSE Centre for Institutional Studies, na Rússia, descobriram que o desempenho acadêmico de mais de 100 estudantes universitários do país era semelhante ao das pessoas com quem eles andavam
  • Ter laços de amizade no trabalho também melhora o humor e, consequentemente, a qualidade do serviço prestado, segundo estudo americano

(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – Costuma-se dizer que quem tem um amigo, tem tudo, e que os amigos são a família que escolhemos. Também que é impossível ser feliz sozinho. Assim como em diversos outros casos, a sabedoria popular tem muito valor: laços de amizade contribuem para o bem-estar tanto psíquico quanto social do ser humano e refletem até na saúde e longevidade. Outro ponto no qual as amizades podem exercer um papel fundamental é no desenvolvimento profissional e financeiro. Ao menos é o que indicam diversos estudos e especialistas.

Pesquisa da University of Brighton, no Reino Unido, por exemplo, constatou que ter um amigo próximo aumenta as reações positivas frente às adversidades, ajudando, portanto, na superação de dificuldades, uma habilidade bastante necessária àqueles que desejam ser bem-sucedidos. O estudo mobilizou 75 participantes, que avaliaram de forma preliminar sua resiliência psicológica, comportamentos de enfrentamento, autoestima e relacionamento com o sujeito que consideram seu melhor amigo.

Um ano depois, a avaliação foi concluída. De acordo com os pesquisadores, os indivíduos que apresentaram maior resiliência no ano seguinte forem aqueles que tiveram uma qualidade de amizades melhor.

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Amigos também podem servir como motivadores que contribuem para melhores resultados nos trabalhos e nos estudos. Pesquisadores do HSE Centre for Institutional Studies, na Rússia, descobriram que o desempenho acadêmico de mais de 100 estudantes universitários do país era semelhante ao das pessoas com quem eles andavam. Apesar de os estudantes não terem escolhido seus amigos pelas notas deles, os que fizeram amizade com bons alunos conseguiram melhorar seu próprio desempenho. Já os que fizeram amizades com acadêmicos com baixo desempenho viram suas notas em avaliações caírem.

Valores próximos

Professor e supervisor do Núcleo de Pessoas nas Organizações (Nupo) da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Victor Martinez diz que as amizades florescem quando se percebe, no outro, valores iguais ou muito próximos aos seus. Além disso, as pessoas costumam ser reflexo dos grupos com os quais se convive, pois as interações humanas impactam no jeito de o indivíduo ser e de ver o mundo.

“Temos a tendência de ser espelho, de imitar, ter comportamento próximo. Tanto é que, quando a gente muda de grupo, tendemos a mudar, levemente, de comportamento, a rever algumas coisas. Sem dúvida, ter amigos bem sucedidos ajuda em nosso próprio crescimento, porque amizade envolve admiração. Óbvio que, aqui, há que se falar também autoconhecimento, que é base disso tudo”, afirma o docente.

No mesmo sentido, Allan Inácio, professor de finanças e coordenador do curso de Administração da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), comenta que não é que as pessoas tentem, propriamente, “imitar” seus amigos, mas sim se inspirar neles. Segundo o especialista, é natural que, ao ter amigos bem sucedidos, as atitudes dessas pessoas possam – e devam – inspirar-lhe.

“Precisamos observar os amigos e tê-los como fonte de inspiração para os bons comportamentos, inclusive, bons comportamentos pessoais e profissionais que levam ao melhor desempenho ou retorno financeiro. Costumo citar uma frase que me inspirou muito: ‘quero estar ao lado de pessoas bem sucedidas, porque pessoas bem sucedidas só podem me puxar para cima e pessoas mal sucedidas só podem me puxar para baixo’”, pontua.

Caminhando junto

No campo das finanças, Inácio vai além e diz que mais do que amigos que possuam valores similares aos seus, é importante que o companheiro, seja marido ou mulher, namorado ou namorada ou até mesmo ficante, partilhe das mesmas visões. Isso porque são pessoas que você quer que estejam ao seu
lado no momento das conquistas do que se objetiva para a vida.

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“Você não tem que ficar resgatando ninguém, dando passos para trás ou esperando. O que deve acontecer é que as pessoas com quem você se relaciona caminhem na mesma direção e de maneira continuada. Assim, os resultados almejados vão ser alcançados de forma mais fácil, o processo será mais simples e rápido”, opina.

Aos que têm amigos “gastadores”, daquele tipo que sempre chama para um programa com mais ostentação, a dica do professor é ter autocontrole. Segundo Inácio, o principal ponto para se ter finanças pessoais saudáveis está na autorregulação, no fato de se ter planejamento e orçamento próprios e tentar segui-los sempre que possível. Amigos de verdade compreendem suas limitações financeiras, ajudam-lhe nesse aspecto e não vão instigá-lo a gastar mais do que pode, a frequentar lugares caros, a comprar coisas das quais você não precisa.

Não significa, contudo, que bons amigos vão ser, automaticamente, bons parceiros de negócio. O único fator que, previamente, considera-se positivo no fato de ter um amigo como parceiro de negócio é a maior facilidade de se relacionar com essa pessoa, alerta Inácio.

“Há muitos exemplos de amizades bastante longevas, de 20, 30 anos, que acabam quando se opta por empreender junto. Parentes que deixam de se falar, casamentos que acabam, amizades que se anunciavam eternas chegam a um fim por conta de negócios. E aqui não falo só de montar uma empresa junto, mas de empréstimos, dívidas. É preciso tomar cuidado”, orienta.

Aumento na produtividade

Ter amigos no ambiente de trabalho também gera reflexos diretos na produtividade. Um grupo de professores da Rutgers University, nos Estados Unidos, entrevistou 168 funcionários de uma seguradora no sudeste do país. Os gestores incentivaram os colaboradores a conhecerem todas as pessoas da empresa, se possível, permitindo que eles trabalhassem com equipes que não são as suas usuais, por exemplo. O que o estudo concluiu foi que fazer amigos no ambiente organizacional aumentou o desempenho dos funcionários, o que foi corroborado por supervisores da empresa.

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Uma possível razão para isso, segundo o estudo, foi o fato de que as pessoas, ao encontrarem algum tipo de dificuldade nas tarefas, não têm medo de pedir ajuda e serem mal interpretadas. Ter laços de amizade no trabalho também melhora o humor e, consequentemente, a qualidade do serviço prestado.

“Quando você tem amigos no trabalho, a trajetória profissional fica até mais leve. Trabalhar ao lado de pessoas em quem você confia, admira e respeita é fundamental. Temos que lembrar que passamos cerca de oito horas por dia no trabalho. Agora, quando você não confia, quando você não tem amigos no ambiente de trabalho, a tendência é ser mais competitivo e mais individualista, o que vai na contramão do que as empresas precisam. As companhias precisam de pessoas talentosas que colaborem em grupo. A amizade, nesse ponto, é fundamental”, comenta Victor Martinez, da ESPM.

Para fomentar o clima de amizade no ambiente de trabalho, o especialista afirma que é interessante que a empresa construa um clima de respeito e confiança, como processos que sejam o mais transparente possível, em que haja abertura às conversas, à escuta. Promover eventos como happy hours – que em tempos de pandemia do novo coronavírus devem ser virtuais – também pode ser considerado, mas desde que seja natural, sem tentar forçar a barra ou a participação.

Quando se fala em amizades no ambiente de trabalho, contudo, é preciso se atentar a algumas questões. Ainda que os pontos positivos superem os negativos, é preciso ficar alerta quanto a questões como distração e algum nível de estresse emocional, como quando há brigas entre colegas de trabalho, pontuaram os especialistas. Assim, é importante fazer uma boa gestão dessa amizade, tentando manter ao máximo o clima de respeito, atendo-se à sua função e dando espaço ao outro quando necessário. Mas o processo vale a pena.

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“É difícil construir conexões reais com seus colegas se você nunca vai além do bate-papo superficial. No entanto, as pessoas que têm um ‘melhor amigo no trabalho’ não só têm mais probabilidade de serem mais felizes e saudáveis, como também têm sete vezes mais chances de se dedicarem ao trabalho. Além do mais, os funcionários que relatam ter amigos no trabalho têm níveis mais altos de produtividade, retenção e satisfação no trabalho do que aqueles que não têm”, escrevem Emma Seppälä e Marissa King, da Escola de Administração da Yale University.

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