- Durante os últimos 29 dias, não faltaram notícias negativas para pressionar a Bolsa. Com a proximidade das eleições de 2022, a preocupação com o fiscal se acentuou e jogou incertezas nos agentes econômicos
- O possível descontrole nas contas públicas gerou aversão a risco no mercado, que reajustou para cima as perspectivas para juros e inflação no País. Na renda fixa, o Tesouro Prefixado mais curto, para 2024, já paga 12,25% de retorno ao ano
- “Outubro foi um mês de grande volatilidade, com o índice da Bolsa brasileira figurando entre os piores índices globais. Tivemos forte valorização dos juros futuros, em virtude dos resultados do IPCA”, afirma Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.
(Por Jenne Andrade e Rebeca Soares) Outubro não trouxe a tão esperada retomada do Ibovespa. O índice fechou novamente em queda, desta vez de 6,7%, no quarto mês seguido de baixa. Durante os últimos 29 dias, não faltaram notícias negativas para pressionar a Bolsa. Com a proximidade das eleições de 2022, a preocupação com o fiscal se acentuou e jogou incertezas nos agentes econômicos.
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Já é esperado, por exemplo, que o Governo fure o teto de gastos em pelo menos R$ 30 bilhões e assim viabilize o pagamento de R$ 400 a cada beneficiário do Auxílio Brasil, programa que substituirá o Bolsa Família no ano que vem.
O possível descontrole nas contas públicas gerou aversão a risco no mercado, que reajustou para cima as perspectivas para juros e inflação no País. Na renda fixa, o Tesouro Prefixado mais curto, para 2024, já paga 12,25% de retorno ao ano. Dada a atual conjuntura, o Comitê de Política Monetária (Copom) acelerou o passo na reunião da última quarta-feira (27) e aumentou a Selic em 1,5%, para 7,75%.
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No mercado, havia quem estimasse um aumento ainda maior. “Essa foi a reunião com maior dispersão de opiniões do mercado dos últimos anos. De toda forma, a própria decisão da diretoria foi unânime, o que mostra comprometimento técnico e a independência de que o Banco Central vai seguir a cartilha e não se deixar influenciar pelo governo”, afirma João Beck, economista e sócio da BRA.
Essa também é a visão de Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos. “Outubro foi um mês de grande volatilidade, com o índice da Bolsa brasileira figurando entre os piores índices globais. Tivemos forte valorização dos juros futuros, em virtude dos resultados do IPCA”, afirma.
Com o viés negativo imperando, apenas 12% dos papéis do Ibov ficaram no campo positivo no período. Entre o grupo, os maiores destaques de alta foram Ambev (ABEV3), BB Seguridade (BBSE3), Telefônica Brasil (VIVT3), EDP Brasil (ENBR3) e JBS (JBSS3). As maiores baixas ficaram por conta da Meliuz (CASH3), Azul (AZUL4), Alpagartas (ALPA4), Gol (GOLL4) e CVC (CVCB3).
Maiores altas
As maiores altas de outubro | |||
Ticker | Empresa | Rentabilidade no mês | Rentabilidade no ano |
ABEV3 | AMBEV | 11,% | 9% |
BBSE3 | BB SEGURIDADE | 10,7% | -22,3% |
VIVT3 | TELEFÔNICA BRASIL | 6,9% | 2,2% |
ENBR3 | EDP BRASIL | 6,7% | 4,8% |
JBSS3 | JBS | 5,3% | 76% |
- Ambev (ABEV3): 11,05%, R$ 16,99
A Ambev (ABEV3) foi um dos grandes destaques positivos do mês. A fabricante de bebidas surpreendeu o mercado com resultados robustos no 3º trimestre de 2021. Houve um avanço de 18,5% na receita líquida, passando de R$ 15,6 bilhões, no mesmo período do ano passado, para os atuais R$ 18,5 bilhões.
O EBITDA (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu a marca de R$5,5 bilhões, em um avanço de 7,9% na comparação com o 3º trimestre de 2020. A Genial Investimentos tem a recomendação de ‘manter’ a ação, com preço-alvo de R$ 18 – o que significa uma valorização de 6% em relação ao fechamento desta sexta-feira (29).
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A empresa está também na carteira recomendada Top 10 da Ágora Investimentos para novembro. A casa ressalta que a esperada redução dos preços dos grãos beneficie a Ambev no longo prazo.
As ações sobem 9,05% no acumulado do ano.
- BB Seguridade (BBSE3): 10,73%, R$ 22,09
A BB Seguridade (BBSE3) subiu 10,7% no mês de outubro, aos R$ 22,09. Os papéis da seguradora são considerados defensivos em momentos em que os juros estão altos. Isto porque parte dos resultados financeiros de empresa vem de aplicações financeiras vinculadas a títulos públicos vinculados à Selic.
“No caso da BB Seguridade, a companhia possui um portfólio bem diversificado, então não depende apenas do resultado financeiro e ainda possui outras importantes linhas de receita”, explica a Toro, na carteira recomendada de outubro.
Para Madruga, da Monte Bravo, a BBSE3 estava extremamente descontada no mercado brasileiro. “Sem dúvida nenhuma, o setor de seguros no Brasil é beneficiado pela alta dos juros”, afirma Madrugada. “Além disso, teve um desembolso menor no pagamento de sinistros.”
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As ações caem 22,73% no acumulado do ano.
- Telefônica Brasil (VIVT3): 6,93%, R$ 45,52
Os resultados do 3º trimestre de 2021 animaram os investidores de Telefônica Brasil (VIVT3). A empresa registrou recuperação das receitas de telefonia móvel, tanto no segmento pré quanto no pós-pago. O lucro líquido chegou a R$ 1,3 bilhão de reais, em um salto de 8,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Paralelamente, as notícias sobre a participação da companhia de telefonia em leilões de 5G abrem precedentes positivos para os papéis nos próximos meses. “Notamos que o ativo VIVT3 está descontado, negociando com um múltiplo que representa um desconto em torno de 20% em relação à sua média de cinco anos. A Telefônica Brasil é uma empresa que paga bons dividendos e estamos mais otimistas com o caso de investimento”, afirma a Ágora, em relatório.
As ações sobem 2,29% no acumulado do ano.
- EDP Brasil (ENBR3): 6,75%, R$ 19,60
A EDP Brasil (ENBR3) foi o grande destaque do setor elétrico no mês. Segundo Alan Gandelman, CEO da Planner Corretora, os resultados da companhia acabam sendo impulsionados pela crise hídrica, que torna a energia mais cara e eleva, portanto, a lucratividade dessas empresas.
As ações sobem 4,81% no acumulado do ano.
- JBS (JBSS3): 5,34%, R$
Os papéis do frigorífico JBS (JBSS3) tiveram bons desempenhos em outubro, em função principalmente da valorização do dólar. Segundo Madruga, a companhia tem fortes ligações com o mercado americano, o que compensou as restrições da China sobre as importações de carnes brasileiras. O bloqueio chinês já dura pelo menos sete semanas.
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Na visão de Gandelman, da Planner, a junção de câmbio e juros altos foi o principal fator que empurrou para baixo ou para cima as ações do Ibovespa. “Algumas empresas se beneficiam com isso e outras não. E estamos vendo esse efeito no preço dos papéis”, afirma.
As ações sobem 76,06% no acumulado do ano.
Maiores baixas
As maiores baixas de outubro | |||
Ticker | Empresa | Rentabilidade no mês | Rentabilidade no ano |
CASH3 | MELIUZ | -44,9% | 32,4% |
AZUL4 | AZUL | -31,6% | -36,7% |
ALPA4 | ALPARGATAS | -26,8% | -8% |
GOLL4 | GOL | -26,7% | -39,1% |
CVCB3 | CVC BRASIL | -25,7% | -19,2% |
Fonte: Broadcast |
- Méliuz (CASH3): -44,93% , R$ 3,31
O papel que mais caiu no mês foi o da Méliuz (CASH3), com -44,93%%. Apesar de ter registrado alta superior a 630% em novembro do ano passado, quando abriu capital na Bolsa, o papel sofre o terceiro mês consecutivo de queda neste ano.
Para analistas, o fenômeno é reflexo da correção dos preços. No início do mês, a empresa anunciou parceria com Captalys para empréstimos de cartão de crédito a partir de 2022. Para a Ágora Investimentos, o acordo é analisado como positivo para ambas as partes. Apesar disso, no curto prazo, a influência não deve ser significativa, “uma vez que o ramp up do produto deve ser gradual e conservador”, aponta relatório da equipe de research.
As ações estão subindo 32,4% em 2021.
- Azul (AZUL4): -31,69% , R$ 24,87
- Gol (GOL4): -26,70%, R$ 15,18
Setor em destaque nas baixas do mês de outubro, as aéreas ficaram com a segunda maior queda do mês. Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) caíram 31,69% e 26,70%, respectivamente.
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O aumento da inflação, especialmente por conta da elevação do preço dos combustíveis e do câmbio afetaram diretamente o setor. Para analistas ouvidos pelo E-Investidor, mesmo que as viagens de final de ano contribuam para a geração de caixa das empresas, ainda existem pressões para que os resultados sejam vistos no preço das ações.
As ações AZUL4 e GOLL4 estão em baixa de 36,72% e 39,13% em 2021.
- Alpargatas (ALPA4): -26,84%, R$ 38,63
No último dia do mês, a Alpargatas (ALPA4) subiu ao ranking das maiores quedas, após cair quase 10% somente no pregão desta sexta (29). O recuo vem mesmo após a empresa reportar melhora nos resultados no balanço do 3º trimestre de 2021, com um lucro líquido recorrente de R$ 155,5 milhões. A marca significa uma alta de 34,1% em comparação ao período de julho a setembro de 2020.
As ações estão em baixa de 8,02% em 2021.
- CVC (CVCB3): -25,79%, R$ 15,97
Pegando carona com o setor aéreo, a quarta maior queda do Ibov em outubro ficou com a CVC (CVCB3), retraindo 25,79%.
Além do impacto no setor de turismo, as ações da CVC foram afetadas com o ataque hacker sofrido pela empresa, o que gerou insegurança e desconfiança. Segundo a empresa, as vendas não foram afetadas.
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Em setembro, os papéis conseguiram fechar com leve alta de 1,08%, mas voltaram a cair em outubro. Para os próximos meses, a expectativa é de recuperação por conta do aumento da procura por pacotes de viagens, além da retomada de viagens internacionais.
As ações estão em baixa de 19,26% em 2021.