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O que esperar da Via (VIIA3) após balanço do 3º trimestre

Empresa apresentou um aumento substancial nas provisões para processos trabalhistas no último balanço

O que esperar da Via (VIIA3) após balanço do 3º trimestre
A holding Via é dona da Casas Bahia. Foto: Werther Santana/Estadão
  • A Via (VIIA3) fechou a última sexta-feira (12) em alta de 0,65%, aos R$ 6,21, em uma leve recuperação após cair 12,48% na véspera. A reação negativa veio após a divulgação do balanço do 3º trimestre
  • De acordo com a varejista, houve uma explosão de 82% no volume de reclamações trabalhistas no 1º semestre de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado, além de um incremento de 32% no valor médio dos processos
  • “É difícil afirmar se a ação vai parar de cair. O investidor tem que ficar atento porque será sem dúvida um papel muito volátil daqui pra frente”, diz analista

A Via (VIIA3), dona das Casas Bahia, fechou a última sexta-feira (12) em alta de 0,65%, aos R$ 6,21, em uma leve recuperação após cair 12,48% na véspera. A reação negativa veio após a divulgação do balanço do 3º trimestre, no qual a empresa apresentou um aumento substancial nas provisões para processos trabalhistas. O montante saltou de R$ 1,2 bilhão no final de junho para R$ 2,5 bilhões no final de setembro.

De acordo com a varejista, houve uma explosão de 82% no volume de reclamações trabalhistas no 1º semestre de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado, além de um incremento de 32% no valor médio dos processos. O impacto da atualização destas provisões nos resultados do último trimestre foi de R$ 810 milhões.

“Foi uma revisão de mais de 100% nas provisões. Para o valor de mercado da companhia, é algo bem expressivo. A empresa até conseguiu mitigar isso parcialmente com os créditos fiscais que tinha, mas poderia ser pior caso não tivesse esses créditos. Isso acaba atrapalhando a Via em focar em outras coisas, porque são muitos os problemas que rondam o varejo hoje”, afirma Anderson Meneses, CEO e fundador da Alkin Research.

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No balanço, a varejista explicou que desde 2011 reduziu 39% do quadro de pessoal, visando melhorar a rentabilidade da empresa. No mesmo período, o crescimento da receita bruta foi de 42%. “Essas demissões impactaram fortemente a entradas de reclamações trabalhistas, principalmente nos anos de 2016 e 2017”, explica a Via em relatório.

Para conter o avanço dessas provisões, a companhia já teria elaborado um plano de ação. Primeiro, a Via pretende aprimorar a estrutura e forma de condução dos processos judiciais, criando um comitê responsável por acompanhar os casos trabalhistas e reforçar a governança corporativa. Segundo o documento, os impactos estimados nos resultados são de R$ 0,1 a R$ 0,2 bilhão no 4°trimestre de 2021, R$ 0,9 bilhão a R$ 1,0 bilhão em 2022 e R$ 0,5 a R$ 0,6 bilhão em 2023.

Mesmo com as explicações, a surpresa negativa ofuscou os demais dados financeiros. “O mercado passou a acreditar que as provisões para processos trabalhistas se manterão altas, o que pode ofuscar futuras conquistas da empresa”, afirma Alexsandro Nishimura, economista, head de conteúdo e sócio da BRA. “O resultado operacional em si não foi o grande problema, pois estes números vieram próximos ao consenso do mercado.”

Contando os efeitos das demandas judiciais e trabalhistas, assim como os créditos de impostos, a Via teve um prejuízo líquido contábil de R$ 638 milhões no terceiro trimestre deste ano, ante um lucro líquido de R$ 590 milhões registrados há 12 meses.

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Eliminando o impacto dos processos e demais gastos não-recorrentes, a varejista aferiu um lucro de R$ 101 milhões.

Recomendações divergem

A situação da Via dividiu opiniões no mercado. Parte das casas de análise rebaixaram as recomendações para VIIA3, Em 2021, as ações estão em queda de 61,5%, a maior entre os ativos que compõem o Ibovespa. Outras researchs, entretanto, ainda estão cautelosas e enxergam grandes upsides para os papéis.

“Pode ser uma reação exagerada, mas a questão é que no passado já aconteceram problemas de governança na empresa, como aquela questão de divulgação antecipada de resultados no Twitter e aparecimento de problemas nos balanços. Então, já se tem um histórico não muito positivo em termos de governança, de aparecer algumas surpresas nos números”, afirma Roberto Nemr, analista da Ohmresearch.

Em 2020, a varejista confirmou a existência de fraude contábil no balanço do 4º trimestre de 2019, identificada após uma denúncia anônima. A manipulação teria ocorrido justamente na provisão para processos trabalhistas, que foram posteriormente corrigidas. Para Nemr, esses acontecimentos recentes justificam esse temor do mercado com qualquer ‘surpresa’.

“Tem que ter mais clareza da empresa. E quando o impacto é único, deveria ter um ajuste imediato e depois tudo bem, mas já aconteceram outros episódios”, explica o analista da Ohmresearch. “Minha preferida no segmento é Americanas (AMER3), não a Via.”

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A Alkin Research tem recomendação neutra para as ações, com um preço-justo a R$ 6,50 – patamar que os papéis da Via já romperam para baixo. De acordo com Meneses, CEO da casa, esse 3º trimestre tinha tudo para ser muito positivo para a companhia , já que a empresa segue com projetos importantes no on-line.

No período, a parte de marketplace somou R$ 2 bilhões em GMV (Volume Bruto de Mercadoria), um aumento de 133% em relação ao obtido um ano antes. O marketplace também contribuiu com cerca de 30% das vendas digitais e foi um dos principais destaques. Contudo, a escalada dos processos trabalhistas tornou incerto os próximos meses.

“No curto prazo, a ação deve ficar pressionada ainda, apesar das perspectivas positivas para o longo prazo”, afirma Meneses. “É difícil afirmar se a ação vai parar de cair. O investidor tem que ficar atento porque será sem dúvida um papel muito volátil daqui pra frente.”

Já a Genial Investimentos manteve a recomendação de compra para Via, mas rebaixou o preço-alvo de R$ 20 para R$ 12. Apesar de enxergar o passivo trabalhista como um ‘grande empecilho’ e que a empresa perdeu certa credibilidade perante o mercado, a corretora vê grande potencial na varejista. “Seguimos acreditando que a empresa negocia a múltiplos extremamente atrativos e apresenta boas perspectivas de crescimento com a evolução do banQi, crescimento do marketplace e oferta do crediário aos sellers da plataforma”, explicam Rafael Rehder e Eduardo Nishio, especialistas da corretora.

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O nível de exposição ao papel deve ser bastante calculado. “Recomendamos aos investidores levarem esses riscos em consideração, assumindo posições não tão representativas no portfólio”, ressaltou Rehder e Nishio, da Genial.

Problema generalizado

Na noite da última quinta-feira (11), a Magazine Luiza (MGLU3) divulgou seus resultados trimestrais. A varejista registrou queda de 90% no lucro líquido ajustado, que passou de R$ 205,9 milhões, no mesmo período do ano passado, para R$ 22,6 milhões. Considerando os efeitos não recorrentes, o lucro líquido foi de R$ 143,5 milhões.

Em reação à divulgação dos números, os papéis MGLU3 entraram em forte queda na sexta-feira (12), pregão seguinte aos resultados, e fecharam em baixa de 18,32%, aos R$ 11,15. “Com os resultados muito ruins da Magalu, o mercado já percebeu que é algo do setor. Isso pode aliviar para as ações da Via, apesar das provisões”, explica Meneses.

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