- Em um cenário como o atual, vale a pena buscar retornos mais polpudos em investimentos mais arriscados? A resposta é: depende.
- Mais importante que o momento oportuno é identificar a medida adequada para cada tipo de investidor.
- Embora a melhora de expectativas econômicas possa aumentar o apetite a riscos, é preciso lembrar que as oportunidades de ganho não se concentram apenas na renda variável, tradicionalmente mais arriscada.
O ano de 2024 começou com perspectivas mais animadoras em relação ao cenário macroeconômico brasileiro. As projeções de indicadores que costumam balizar decisões no mercado financeiro, como juros, inflação e Produto Interno Bruto (PIB), melhoraram ao longo do ano passado e, por conta disso, o mercado vê maior previsibilidade sobre os rumos da economia. Em um cenário como o atual, vale a pena buscar retornos mais polpudos em investimentos mais arriscados? A resposta é: depende.
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Especialistas ouvidos pelo E-Investidor explicam que sempre há espaço para acrescentar – ou retirar – risco dos portfólios. Mais que o momento oportuno, identificar a medida adequada para cada tipo de investidor é essencial. Em linhas gerais, quem tem perfil mais conservador suporta menos risco, enquanto o investidor mais arrojado ou agressivo tem maior tolerância.
Embora a melhora de expectativas econômicas possa aumentar o apetite a riscos, é preciso lembrar que as oportunidades de ganho não se concentram apenas na renda variável, tradicionalmente mais arriscada.
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“O ano de 2024 ainda vai ser muito positivo para vários mercados de renda fixa, que continua muito atrativa com uma taxa de juros de dois dígitos”, diz Ricardo Jorge, sócio da Quantzed. “Não vejo arrefecimento para essa classe de ativos, apesar de todo esse contexto de melhora com relação a PIB, inflação e tudo mais. Há espaço para os diferentes perfis de risco.”
Fernando Siqueira, head de Research da Guide Investimentos, concorda. Para ele, em 2023 foi o começo de uma melhora que deve seguir neste ano. “Tanto aqui quanto no exterior, a bolsa está barata. Os fundos imobiliários e ativos alternativos também. Tem carteira com rendimento potencial bem maior que o CDI (Certificado de Depósito Interbancário, principal referência de desempenho de investimentos). Ainda vale a pena adicionar um pouco de risco nos portfólios”, avalia Siqueira.
O último Boletim Focus do ano, divulgado na segunda-feira (8), consolidou as expectativas dos economistas para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 em 3,90%. A estimativa de crescimento do PIB passou de 1,52% na semana anterior para 1,59% e a da taxa básica de juros, ao final do ano, permaneceu em 9%. Atualmente, a Selic está em 11,75% ao ano.
“Essa melhora significativa do cenário, principalmente com relação à inflação, se deve a uma política monetária restritiva vigente já há bastante tempo. O PIB foi uma grande surpresa por conta da evolução do agro no primeiro semestre. O câmbio muito mais comportado se deve às contas nacionais mais controladas do que em momentos anteriores. Todo esse contexto corrobora para uma melhor dinâmica dos mercados de maneira geral”, avalia Jorge.
Como adicionar risco ao portfólio?
Para quem busca maior exposição a risco, antes de tudo deve entender seu perfil de investidor, aconselham os analistas. De conservador a arrojado, há diversas opções a serem consideradas.
Na renda fixa, por exemplo, ativos atrelados à inflação e títulos pré-fixados são boas opções de investimento para os mais conservadores, observa Jorge.
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Siqueira diz que uma carteira mais conservadora, com recursos em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de bancos, Tesouro Selic ou poupança, pode ceder espaço para a entrada de títulos públicos mais longos, como Tesouro IPCA+, por exemplo. “Esses ativos têm um pouco mais de risco, mas também apresentam um retorno potencial maior”, diz Siqueira.
Para quem suporta mais emoção, o head de Research da Guide explica que, embora a renda variável possa oscilar mais que a renda fixa, ela tem potencial de retorno maior. “É só ver o que aconteceu, por exemplo, no ano passado. A Bolsa subiu 22% e o IMA-b, que é um índice que pega só NTN-b (títulos do Tesouro atrelados à inflação), subiu 16%. O IMA-g, que é um índice geral de títulos públicos, subiu 15%”, compara Siqueira.
A relação dos investimentos campeões em retorno no ano passado pode ser vista neste levantamento.
“Para quem aceita mais risco, eu recomendaria o índice de small caps, que tende a ter um desempenho melhor neste ano se este cenário dos juros caindo se confirmar. Historicamente ele teve uma performance melhor quando os juros estão caindo. Se não quer assumir muito risco, uma opção seria o índice de dividendos”, aponta Siqueira.
Ainda com foco na Bolsa, o sócio da Quantzed destaca as ações de setores que vão se beneficiar de uma taxa de juros menor, como varejo e serviços. “Para a Bolsa de maneira geral, uma taxa de juros mais baixa é melhor. Mas, de maneira mais expressiva, esses setores que estão diretamente relacionados com o consumo podem se beneficiar mais”, avalia Jorge.
Vale a pena entrar em cripto?
Em 2023, o bitcoin teve o melhor retorno acumulado: 133%. Com forte oscilação positiva na cotação de preço, o criptoativo tem se popularizado mais. Para Jorge, o investimento em criptomoedas ainda é “puramente especulativo” e, portando, o investidor precisa estar atento a isso e decidir se está disposto a aguentar a alta volatilidade que criptoativos apresentam.
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“As criptomoedas não tem base monetária, não tem regulação em muitos casos. Isso traz pouca confiabilidade. É um investimento altamente volátil, de alto risco. O investidor tem que ter na cabeça que não há embasamento macroeconômico que sustente a valorização das criptomoedas”, afirma Jorge.
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Siqueira, por sua vez, avalia que mesmo sendo de alto risco é possível adicionar pequenas doses de cripto na carteira de investimentos, para entender a dinâmica desses ativos. “Não acho que seja absurdo colocar um pedacinho que seja, 1% ou 2% do patrimônio, e começar acompanhar e procurar entender melhor o que move esse ativo, quais são os fatores positivos”, sugere Siqueira. “Historicamente, o bitcoin também costumou ir bem quando os juros estavam baixos”, ressalta.