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As ações de Gol e Azul vão decolar? Veja as recomendações

Papéis das empresas aéreas ainda estão longe dos patamares pré-pandemia

As ações de Gol e Azul vão decolar? Veja as recomendações
Inflação, alta do dólar e perspectiva de recessão global prejudicam as aéreas. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
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  • Entre fevereiro e março de 2020, quando a crise do coronavírus foi entendida pelas autoridades de saúde e chegou ao Brasil, as ações da Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) cederam 66,8% e 70,38%, respectivamente
  • O isolamento social necessário para frear a disseminação da doença pressionou bastante os papéis, que ainda estão longe dos patamares pré-pandemia
  • Apesar do arrefecimento da crise sanitária em 2022 e da volta das viagens aéreas, os analistas ainda se dividem a respeito da recomendação para os papéis

As companhias aéreas passam por uma intensa turbulência na Bolsa há pouco mais de dois anos. Entre fevereiro e março de 2020, quando a crise do coronavírus foi entendida pelas autoridades de saúde e chegou ao Brasil, as ações da Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) cederam 66,8% e 70,38%, respectivamente.

O isolamento social necessário para frear a disseminação da doença pressionou bastante os papéis, que ainda estão longe dos patamares pré-pandemia. No dia 30 de dezembro de 2019, GOLL4 e AZUL4 estavam cotadas a R$ 36,80 e 58,28, respectivamente. No fechamento desta terça-feira (19), os ativos da Gol e Azul estavam cotados a R$ 8,46 e R$ 12,56.

Apesar do arrefecimento da crise sanitária em 2022 e do aquecimento da demanda das viagens aéreas, analistas ainda se dividem a respeito da recomendação para os papéis. Agora, as principais preocupações são com uma tempestade perfeita formada no ‘pós-pandemia’: um conjunto de inflação e juros altos, alta do dólar e do petróleo e perspectivas de recessão global.

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A pandemia do coronavírus provocou um desequilíbrio entre oferta e demanda que gerou inflação no mundo todo. O aumento acelerado dos preços está forçando os bancos centrais a subirem as taxas de juros e, consequentemente, desacelerarem suas economias.

Por aqui, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 11,89%, em 12 meses (junho de 2021 a junho de 2022), enquanto a taxa Selic está em 13,25%, maior patamar desde 2017.

O aumento dos juros encarece o custo da dívida dessas companhias. O avanço do dólar frente ao real também pesa contra os papéis da Gol e Azul, que possuem dívidas na moeda estrangeira com manutenção e leasing (aluguel de aeronaves). Por último, o preço do barril de petróleo Brent subiu 45% desde 18 de junho de 2021 e agora é negociado a US$ 107.

A commodity está ligada ao querosene usado nas aeronaves. “Ainda que tenhamos observado um movimento de clientela para voos nacionais e internacionais, a situação financeira tanto de Gol quanto de Azul é complicada. As empresas têm patrimônio negativo, ou seja, muitos prejuízos acumulados”, afirma João Abdouni, analista da Inv.

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No final do 1° trimestre de 2022, a Gol apresentava um patrimônio líquido de -R$ 18,1 bilhões, enquanto a Azul tinha um PL de -15,6 bilhões. “Os custos se elevaram muito. Já eram empresas deficitárias, que davam prejuízos em anos anteriores. Observamos esse cenário atual como ainda mais desafiador”, diz Abdouni.

Para efeito de comparação, em dezembro de 2019, antes da pandemia, o patrimônio líquido das duas aéreas da bolsa já era negativo. Contudo, em um montante bem menor: Gol tinha PL de – R$ 7,1 bilhões e Azul de -R$ 3,5 bilhões.

Desde o início de 2020 até hoje, as ações GOLL4 e AZUL4 caem 77,2% e 78,6%, respectivamente.

Desafios

Ygor Araújo, analista do setor de indústria e transporte da Genial Investimentos, explica que há duas grandes diferenças entre as duas aéreas da Bolsa. A primeira é que a Azul se alavancou mais do que a Gol durante a pandemia, mas conseguiu reduzir essa alavancagem mais rápido.

Alavancar financeiramente uma companhia significa financiar o crescimento por meio de endividamento. Nas contas do especialista da Genial, no início da pandemia a Azul tinha uma dívida que girava em torno de 3x o resultado operacional (a empresa levaria três anos para pagar sua dívida) e, durante a crise sanitária, esse número foi para 11,2x. Hoje, esse montante está menor, em 7,8x.

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Com a Gol, a situação foi o contrário. Pouco antes da pandemia, a alavancagem era 3x o resultado operacional. No 2° semestre de 2021, a métrica foi para 11x e, agora, está em 10,1x – maior do que a registrada pela Azul.

A segunda diferença seria exatamente o nível de recuperação em relação ao período pré-pandêmico.

“A Azul conseguiu reduzir mais sua alavancagem justamente porque ela já está entregando números operacionais melhores do que o pré-pandemia, isso em termos de número de passageiros transportados, quilômetros voados e oferta de voos. Demanda e oferta da Azul já estão mais fortes do que no pré-pandemia”, ressalta Araújo.

Já a Gol ainda estaria defasada em relação aos patamares pré-pandêmicos. “A Gol opera malhas muito mais expostas à demanda corporativa, que não está no mesmo patamar do período antes da pandemia”, aponta Araújo. “E as pessoas estão fazendo teleconferências em vez de reuniões presenciais.”

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Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, vê as companhias fazendo um bom trabalho do ponto de vista de eficiência. Para o especialista, as aéreas estão tomando todas as medidas possíveis para reduzir custos, mas sofrem o impacto de duas variáveis (aumento do dólar e do petróleo) sobre as quais essas companhias não têm controle algum.

“Há, sim, uma excelência na execução daquilo que dá para fazer. Ou seja, em matéria de ações gerenciáveis, como na receita, em que as empresas estão passando muito bem os custos”, diz Arbetman.

O preço das tarifas médias das empresas têm subido, em uma tentativa de repasse da inflação. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), somente entre janeiro e abril deste ano, o preço médio dos bilhetes das aéreas subiu 21,52% em relação ao mesmo período de 2021. “Estão fazendo o que podem, mas estão com dificuldades de terem yields (rendimentos) maiores”, afirma o analista da Ativa.

Essa também é a visão de Phil Soares, chefe de análises de ações da Órama Investimentos. “Hoje temos preços de passagens aéreas muito altos, puxados pelos preços do petróleo. O volume de voos internacionais ainda está muito depreciado. O nacional está voltando, mas ainda menor que antes. As empresas estão com operação reduzida.”

Recomendações

Esse cenário desafiador para as aéreas provoca divergências entre analistas. De um lado, há quem enxergue a atual pressão sobre os ativos como uma oportunidade de obter os papéis com desconto. Do outro, há quem veja a conjuntura com mais cautela.

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O BTG Pactual, por exemplo, tem recomendação de compra para ambas as ações. No caso da Gol, o banco projeta um preço-alvo de R$ 31, o que representa um salto de 266% em relação à cotação atual. A indicação acontece na esteira da retomada dos voos corporativos e aumento das receitas, que devem compensar a alta dos custos.

Para as ações da Azul, a instituição financeira estipulou um preço-alvo de R$ 47, que significa um potencial de alta de 274% em relação à cotação atual. A tese também vai de encontro à recuperação do setor aéreo e desconto atual nos papéis, apesar dos riscos de curto prazo relacionados à inflação.

Araújo, da Genial Investimentos, também possui recomendação de compra para os papéis da Azul. O analista vê as ações bastante descontadas, com a empresa sendo negociada em bolsa em um nível semelhante aos piores momentos da pandemia, mas os resultados dela são superiores. Para Gol, a visão é neutra.

“A Azul tem uma vantagem competitiva de não ter essa exposição à demanda corporativa, como a Gol. A demanda corporativa está diminuindo estruturalmente, o que faz a companhia sofrer mais e a Azul se beneficiar”, afirma Araújo. “A Azul também não tem muita competição na sua malha aérea, o que deixa a aérea com um poder maior de repasse de custos.”

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Já Arbetman, da Ativa, tem recomendação neutra para os dois papéis em função do cenário ainda nebuloso e da situação financeira das companhias.

Segundo o analista, existe o risco de que as empresas precisem recorrer a medidas de liquidez (levantar capital) nos próximos meses, como a antecipação de recursos de programas de fidelidade, emissão de dívidas e alguns movimentos de consolidação.

Abdouni, da Inv, reforça que os principais riscos das companhias são a alta dos insumos, que não devem arrefecer tão rápido. As perspectivas são de que o volume de voos e passageiros retome ao que era há dois anos, mas que os custos continuem muito elevados. “Nesse cenário não temos recomendação de compra para as empresas de aviação, por acreditarmos que elas ainda devem sofrer bastante com a situação econômica global.”

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